11/10/2008

desculpem, afinal só tenho 3 coisas a fazer...

é mesmo isso, um pedido de desculpa...


à ministra da educação. sim, estou mesmo a pedir desculpa a maria de lurdes rodrigues por não ter compreendido logo que afinal, e ao contrário do que se pensava, a avaliação é simples, a divisão da carreira distingue o mérito e o professor apenas tem que:

a) dar as suas aulas (segundo as planificações anuais a longo e a médio prazo elaboradas já com o ano lectivo a decorrer e sem os resultados da avaliação diagnóstica; rever as planificações realizadas, tendo em conta o resultado da avaliação diagnóstica efectuada e o respectivo relatório elaborado pelo docente; adaptar as planificações às especificidades de cada um dos seus (130) alunos de forma a conseguir individualizar o processo de ensino-aprendizagem numa sala de aula com 28 alunos; participar nos conselhos de turma de início de ano para conseguir adoptar estratégias interdisciplinares para alunos que ainda não conhece; voltar a reunir em reuniões intercalares para avaliar o ponto de partida da turma e de cada um dos alunos de forma a conseguir motivá-los para as aulas; pelo caminho decidir qual o procedimento a adoptar nas situações relatadas em conselhos de turma disciplinares de alunos que resolveram desrespeitar e insultar professores e colegas e boicotar as aulas (coitadinhos não têm culpa porque vivem em condições familiares deploráveis e isso desculpa tudo); prestar apoio pedagógico acrescido aos alunos que revelam dificuldades (a maior parte das vezes porque não trabalham) e adequar as suas estratégias (baixar a exigência) para os alunos conseguirem atingir os objectivos mínimos constantes dos programas das disciplinas...)

b) preencher uma ficha de objectivos (que contem apenas 21 pontos nos quais se devem definir objectivos individualizados, em instrumentos discutidos e aprovados (ou não), tendo em atenção documentos tão simples como os projectos educativos, os projectos curriculares de turma e os indicadores de medida emanados para a totalidade de uma escola; fazendo a perspectiva do que irá ser a avaliação final dos seus alunos quando ainda não os conhece verdadeiramente; tentando atingir níveis de positivas definidos no geral de uma escola, sem que se tenha em conta a especificidade da disciplina e o próprio aluno em causa; determinando o número de dias que poderá ficar doente, ter um acidente, o número de pessoas de família próxima que possam falecer, o número de aulas a que terá de faltar porque é necessário auxiliar um pai ou uma mãe que adoeceram, o número de dias em que nevará (se for esse o caso) e não poderá ir para a escola e até o número de dias em que se vai baldar porque nasceu resolveu casar ou nasceu um filho; e finalmente, terá de prever que realizará formação, fora do seu horário de trabalho, se necessário paga do seu bolso e sem garantias de ser reconhecida);

c)entregar uma ficha de auto-avaliação (em reunião com o seu coordenador de departamento (que até poderá ser de área disciplinar diferente e ter menos formação académica), na qual deverá reflectir sobre o grau de cumprimento dos seus objectivos, justificando o porquê de o menino que nunca veio às aulas ter tido negativa e tentando fazer ver a quem de direito que o facto de o menino ter abandonado a escola não tem que ver consigo mas com o facto de (apesar de ter sido contactada a cpcj da situação do aluno) a mãe do aluno ter resolvido que ele iria trabalhar para ajudar no orçamento familiar; ficha em que se deve referir os relatórios de todas as actividades interdisciplinares em que o professor participou, actividades que o professor organizou, colegas com que colaborou bem como todo o trabalho desenvolvido seja em que contexto for... ah, e não esquecer o portfolio que deverá conter todos os instrumentos utilizados pelo professor ao longo do ano no desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem, já estou a ver os administradores da portucel a esfregar as mãos de contentamento)

afinal, esta avaliação é simples e não implica trabalho acrescido, é só uma questão de organização.
organizemos então estas tarefas entre os 22 blocos de 45' que temos de leccionar e os intervalos que passamos na escola, mais as horas de almoço de 45' porque é necessário ajudar os alunos que nos encontram nos corredores e atender os encarregados de educação que não têm forma de passar na escola a outra hora. e encaixemos aí também as reuniões de equipa pedagógica dos cef's, onde se tenta arranjar maneira de manter os alunos dentro de uma sala de aula sem que se agridam ou nos agridam a nós, para os podermos despachar com o nono ano porque chumbar agora nem por faltas e é necessário um processo do tamanho da luso-brasileira para que o menino repita o ano.
já agora, deixem lá para depois a correcção dos testes e dos trabalhos de casa que nisto de ser professor basta organizar o trabalho e o dia passa a ter mais umas horas (ninguém te manda estar a trabalhar tão longe de casa e perderes horas em viagens).
sim, peço desculpa por não ter chegado antes à conclusão que é só uma questão de organização, desculpe senhora ministra, se me tivesse ocorrido que a avaliação são apenas 3 passos nem teria perdido um dos (apenas dois) dias por semana em que posso estar com a família para ir ter com os outros 199999 chantagistas desorganizados...

mas, espere lá... eu ainda nem sequer sou professor... já passei por 7 escolas mas agora para saber se sou ou não professor tenho de fazer um exame e ter a nota mínima de 14 para poder aspirar a aceder à carreira! não há problema, eu organizo-me e também consigo isso... afinal, é para isso que recebo tanto dinheiro!

mais uma vez, peço desculpa.

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