7/19/2006

mário de sá-carneiro

quase

"um pouco mais de sol - eu era brasa,
um pouco mais de azul - eu era além,
para atingir, faltou-me um golpe de asa...
se ao menos eu permanecesse aquém...

assombro ou paz? em vão... tudo esvaído
num baixo mar enganador de espuma;
e o grande sonho despertado em bruma,
o grande sonho - ó dor! -quase vivido...

quase o amor, quase o triunfo e a chama,
quase o princípio e o fim - quase a expansão...
mas na minh'alma tudo se derrama...
entanto nada foi só ilusão!

de tudo houve um começo... e tudo errou...
- ai a dor de ser quase, dor sem fim... -
eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
asa que se elançou mas não voou...

momentos de alma que desbaratei...
templos aonde nunca pus um altar...
rios que perdi sem os levar ao mar...
ânsias que foram mas que não fixei...

se me vagueio, encontro só indícios...
ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
e mãos de herói, sem fé, acobardadas,
puseram grades sobre os precipícios...

num ímpeto difuso de quebranto,
tudo encetei e nada possuí...
hoje, de mim, só resta o desencanto
das coisas que beijei mas não vivi...

um pouco mais de sol - e fora brasa,
um pouco mais de azul - e fora além.
para atingir faltou-me um golpe de asa...
se ao menos eu permanecesse aquém..."



*porque mário de sá-carneiro é fantástico...
**porque um pouco mais de tempo - e era vivo!!!

2 comentários:

Carla Gouveia disse...

Aqui a santa ignorância da Carla ainda não conhece Mário de Sá-Carneiro como deve de ser... Mas parece-me bem... Não tão bom como o meu Pessoa, mas tá lá... ;P Vês o que fizeste? Agora Vou ter de adicioná-lo à minha lista... E isso de plagiares os meus postanços vai te de acabar!! Cmé k tamos? :) Naaa, não há problema absolutamente nenhum... Tás à vontade! E depois, até é bom sinal... ***

Carla Gouveia disse...

Ofereceram-me um livro hoje... Pelos vistos é dedicado a Mário de Sá-Carneiro... Autor? Um desconhecido "amigo"... Gostei particularmente desta parte:

"Deus é como um patrão.
Com dezassete ordenados em atraso

A minha alma é uma bicicleta dopada.
Sobe os montes...
Irrompe as sebes...
Arroja-se em colunas de sufoco...

O meu corpo é constutuído por;
Moinho... arroio... e tijolos.
A minha alma assemelha-se a um;
Penhasco... fogo... e a um jardim.

O meu abismo é um circo que projecta
Jardins onde há crianças que brincam às serpentes.
Flores caninas, insectos lunares e animais que dançam.
Congressos, colóquios, protestos e desfiles.

Há um número indeterminado de palácios...
O meu abismo é uma ave do tempo dos ossos..."